segunda-feira, 8 de abril de 2013

Músico questiona o futuro da arte de rua em Florianópolis

A arte, às vezes, pode ser incompreendida. Pelo menos essa é a visão de Jaime Ollivet Suwnah. Chileno, segundo ele morando legalmente há 15 anos em Florianópolis, não acredita mais em arte ou cultura de rua na cidade em que resolveu viver de música e artesanato.

Crédito: ArtesUrbanas.com
Ollivet vende porta-incensos, cachimbos e flautas, que também toca nas ruas da capital catarinense. Realidade a qual não crê ser capaz de reverter, permanecendo à margem da arte, como ele entende. Diante de esbravejadas reclamações e raivosas queixas, ele apresenta o "lado B" de quem quer fazer da rua um caminho para sua arte.

O chileno afirma ter tentado por inúmeras vezes elaborar projetos de arte para ensino da fabricação de flautas de bambu e aulas de música, mas para ele o apoio da prefeitura nunca veio. "Me interpretam como um gringo, um estrangeiro que não sabe do que fala, mas a arte não tem idioma. Gostaria de fazer projetos de cultura para a cidade em que vivo, mas minhas tentativas, acho, nunca nem foram lidas".

Ollivet diz que mora aqui por que gosta, mas que a arte não lhe rende. "Sobrevivo com as peças que faço, com as minhas apresentações e aulas, mas já penso em me mudar. Em Florianópolis se valoriza o que é de elite e o que é nativo. Quem é de fora, gringo como eu, não se apresenta em grandes palcos, não está em teatros ou nas rodas da alta-sociedade, não está fazendo arte, somente importunando ou em contravenção". E ele prossegue com o discurso rijo: "Em qualquer feira de 'artesanato' da cidade, quantas daquelas barracas realmente são artesanato? Nenhuma. Ou pouquíssimas. Tem vinil, artigos de cama, mesa e banho. Ou decorações de MDF e 'pinturinhas', mas e a arte? Não tem escultura, renda de bilro ou de cultura local. Só peças de decoração para casa".

Crédito: ArtesUrbanas.com
Jaime retrata que a pouca arte presente na rua é justificada pelo fato deste tipo de manifestação ser vista como marginalidade. Para ele, quem se apresenta na rua é encarado com pedinte ou oportunista. Afirma que a polícia repreende suas atividades por entender como comércio ilegal, que lhe cobram notas fiscais de produtos que ele mesmo fez e na ausência, apreendem suas obras. Diz ser mal visto pelos lojistas, como se poluísse a fachada e afastasse os clientes. Que poucos o veem como um empreendedor na carreira da cultura, mas como um subsistente das vias urbanas. Ele não desiste, segue crente que faz arte e cria cultura, mesmo pouco valorizado, faz o possível por suas obras.

Crédito: ArtesUrbanas.com

O que diz a Prefeitura?


Em Florianópolis, o órgão responsável pela cultura é Fundação Franklin Cascaes. O diretor da entidade Luiz Ekke Moukarzel explicou que as feiras de artesanato realizadas na cidade são organizadas por associações de bairro ou de artesãos e regulamentadas pelo IPUF. Ele concorda que esta modalidade de organização, sem critérios de seleção, faz com que as feiras representem mais trabalhos manuais (aplicações sobre produtos industrializados) do que artesanatos (objetos de arte com transformações da matéria-prima). 

Créditos: Júnior Careca
Luiz, diz ainda que as administrações passadas, pouco valorizaram a cultura local, nativa da Ilha. E que as novas políticas que estão sendo implementadas pretendem reverter este quadro regulamentando na própria Fundação as atividades ligadas à cultura, artes e artesanatos, bem como só contratar artistas locais para atividades relacionadas à entidade.

Quanto a questão dos projetos, Luiz Moukarzel, diz que é preciso profissionalizar os artistas de rua, para que eles consigam se firmar no mercado artístico, apresentar projetos sólidos e viáveis. Esta é outra proposta em pauta no órgão, cursos profissionalizantes.

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