A arte e seus contextos

Fundação Franklin Cascaes define rumos da cultura em Florianópolis

Proposta é tornar a capital do Estado uma referência nacional do setor, segundo o superintenedente


Crédito: Dieve Oehme
Luiz Ekke Moukarzel, é o mais novo superintendente da Fundação Franklin Cascaes e o mais cotado para assumir a recém anunciada Secretaria Municipal de Cultura. Com formação e atividade na área artística, Luiz quer ser um diferencial para política cultural da cidade a longo prazo.

A Franklin é um órgão gestor de cultura. A fundação só executa as leis já existentes, estando assim incapacitada de agir autonomamente e ter ações mais perenes. Com a criação da Secretaria de Cultura, a ideia é gerar novas políticas municipais e direcionar as atividades de natureza artística na cidade.

O superintendente explica que há 15 anos, aproximadamente, a organização de atividades desta natureza perdeu-se dos órgãos de cultura e passou a ser gerida pela Secretaria de Turismo e fiscalizada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano e o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis. Com isso, o cenário artístico acabou enfraquecido, principalmente para os artistas locais. "Perdeu-se a parte técnica e resultou na troca de artesanatos (transformação da matéria-prima) por trabalhos manuais (trabalho com manufaturas); expressões culturais genuínas por atividades de divertimento público; artistas locais por nacionais.", ressalta Luiz. O objetivo primordial desta gestão é incentivar e mudar os hábitos de cultura na cidade.

Um dos projetos é equilibrar comércios e centros de convivência social e artística no Centro de Florianópolis, bem como o mix de lojas na região, a começar pelo Mercado Público Municipal. O conceito a ser empregado é o urban art, que prevê a integração de comércio, museus e moradia, além da regionalização por bairros da cultura.

Crédito: ArtesUrbanas.com
E a chave para esta mudança é fazer com que as pessoas saiam do conforto de suas casas rumo à cidade, o melhor, a polis, local onde tudo acontece, segundo os gregos.

Na antiguidade as apresentações aconteciam nos anfiteatros gregos e romanos. Na Europa Medieval a arte envolvia dos bobos da corte, aos trovadores, pintores e escultures nas ruas. Mais recentemente, na era moderna a cultura sofreu influência do industrialismo e das expressões urbanas, ampliando as funções de contestação e reflexão social. Mas as mídias transformaram de vez o acesso à arte, colocando o teatro, a música e museus há um canal de distância. Já a reforma microeletrônica deu portabilidade a esta busca e a digital criou a globalização da cultura e arte. Assim o conforto da TV e da internet, à custo fixo e doméstico, se tornaram as maiores concorrentes das expressões ao vivo.

"A sociedade está midiática. Tudo é reposição. É o mesmo, do mesmo, de roupa nova", diz Luiz. Segundo ele, a arte de rua é extremamente positiva, desde que não seja efêmera. "O público na rua vê as apresentações, pois está em trânsito, de passagem, não porque procura por isso. Há peças e apresentações gratuitas todos os meses, mas as plateias estão vazias. Durante a semana os museus tem dias grátis, mas não tem visitas. É uma questão de associação de valores", completa.

Créditos: SXC.hu
Para Moukarzel, o valor empregado pelas pessoas não é o mesmo para atividades locais e nacionais. Para ele, as pessoas não sentem necessidade de cultura como uma ferramenta de crescimento humano e educação. "Quem não paga R$ 60 para ir ao teatro, muitas vezes desembolsa o mesmo valor para ir a um jogo ou a shows nacionais. Temos apresentações semanais por R$ 20, que é o preço de um lanche em uma rede fast food. O que importa não é o preço, ou o acesso, é a relação de valor pessoal empregado", define Luiz.

As estatísticas coletadas pela Fundação negam mudanças relevantes nos hábitos culturais pelos contatos artísticos urbanos atuais. Há um desgaste da figura do artista local, inferiorizado em relação ao nacional e às percepções de pouca profissionalização ligadas a eles. A arte urbana efêmera é ruim, bem como as propostas de apresentações gratuitas, por 1 kg de alimento, ou sociais, que colocam atividade em uma posição de favor, não de vontade. A gestão pretende valorizar os artistas locais, restringindo quase que totalmente o uso de verbas públicas para artistas que não residam ou atuem plenamente em Florianópolis. Mas, para isso, é indispensável a profissionalização dos artistas e das atividades, inclusive com a oferta de cursos gratuitos.

Outro ponto questionado, é o fato do município não ter estruturas culturais próprias, só a Casa da Lagoa é totalmente da Prefeitura. Os demais espaços pertencem ao Estado ou à União, o que emprega políticas culturais de Estado à cidade.

O futuro


Crédito: Júnior Careca 
Desde 2009 longe da Secretaria de Turismo, representada pela Fundação Franklin Cascaes, a nova Secretaria de Cultura deve vir ano que vem. A estrutura já está assegurada pela Reforma Administrativa aprovada pela Câmera de Vereadores, no Artigo 55. Estas definições determinam que: 

"À Secretaria Municipal de Cultura compete:
I - o planejamento, organização, promoção, articulação, coordenação, integração, execução e avaliação das políticas municipais relativas à área da cultura;
II - o fomento e estímulo à cultura em todas as suas manifestações, com o acesso aos bens culturais e a expansão do potencial criativo dos cidadãos;
III - preservar a herança cultural de Florianópolis, por meio da pesquisa, proteção e restauração do seu patrimônio histórico, artístico, arquitetônico e paisagístico;
IV - promover o intercâmbio cultural através de convênios com entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais;
V - interagir com os municípios da região visando à promoção de políticas de desenvolvimento regional na área da cultura; e
VI - exercer outras atividades correlatas designadas pelo Prefeito ou atribuídas à Secretaria por Decreto do Poder Executivo."

Com a Secretaria na ativa a intenção é recuperar o tempo perdido e tornar Florianópolis uma referência nacional no campo das artes.

Doutor em Arte faz parâmetro entre história das cidades e expressões culturais urbanas

Marcelo Téo sensibiliza que o caráter destas manifestações é a interferência à rotina dos grandes centros 


A arte teve seus primeiros registros na humanidade há pelo menos 40 mil anos. As pinturas rupestres são encontradas normalmente no fundo de cavernas escuras, e faziam parte não apenas de rituais, como também serviam de comunicação. 

A pintura mais antiga que temos registro é datada de 40.800 anos, em uma parede em El Castillo, no norte da Espanha. A pesquisa foi feita pela Universidade de Bristol, na Inglaterra, e de acordo com o estudo, as pituras foram feitas pelos primeiros humanos anatomicamente modernos ou por neandertais.

Para Marcelo Téo, Doutor em Arte pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de história da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), podemos sim pensar na origem da arte nesse período, mas especificamente a arte urbana surge dentro de contexto das cidades. A concepção de "estar fazendo arte" é algo extremamente citadino, desta forma as expressões artísticas serão de acordo com as culturas delimitadas por espaço e tempo. 

   Marcas de mãos foram encontradas na caverna de El Castillo, na Espanha. A arte rupestre foi considerada uma das mais antigas do mundo, com 40.800 anos (Foto: AFP)

A arte em geral tem como característica mais essencial a expressão. Para entendermos o porque dessa manifestação, devemos colocá-la dentro do período a qual pertence, considerar os acontecimentos que levaram a tal ato e o motivo de ter este espaço. "Assim podemos entender a razão de em determinado momento histórico surgir a figura do bobo da corte, ou então, o que leva, na sociedade contemporânea, as pessoas a abandonarem o caminho teoricamente traçado, de universidade, trabalho, e viverem migrando de cidade em cidade fazendo malabares, pinturas, estátuas-vivas, dentre outras coisas", coloca Marcelo.

O que caracteriza a arte urbana, é o ambiente em que ela acontece, nas vias públicas, fora dos espaços de museus, galerias e teatros. A tendência dessas expressões, é justamente não ter regras pré-estabelecidas, ser "engessada" ou expor conceitos que agradem somente a pequenos grupos, buscando as massas. Nas ruas, o artista é parte da obra, o corpo e seus movimentos também são composições do produto apresentado. "Conceituar arte é algo complicado, já que por mais que se discuta, nunca chegaremos a um consenso, ela se renova a cada espaço de tempo" diz Marcelo. 

São muitas as artes, dezenas, e vamos mostrar maneira de expressão de alguns artistas em Florianópolis, no maior palco, no mais democrático e com a plateia mais abrangente e exigente de todas, os cidadãos que passam nas ruas diariamente.

* Fonte consultada: Universia - Reportagem '' Uma investigação na que participa a Universidade do País Vasco/EHU, portada da revista Science''

Um comentário:

  1. Adorei tudo...
    Tudo lindo, reportagem e imagens...
    Assim sabemos o que tem em Floripa...
    Parabéns alunas.

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