segunda-feira, 3 de junho de 2013

Jovem trabalha em empresa internacional, mas não abandona grafite


Crédito: ArtesUrbanas.com
João Vejam. É assim que prefere ser identificado o empresário que tem no grafite um hobby. Há 13 anos ele andava de skate e gostava de desenhar personagens de desenho animado, mas sua paixão são as letras estilizadas. "Quando vi na TV uns caras andando de skate e um grafiteiro pintando a rampa... dali em diante não parei mais de desenhar as letras do graffiti e buscar informação para entender o que era e como era feito." 

Tendo arte urbana como meio de comunicação com as pessoas, João busca inspiração na vida que leva e nos lugares por onde anda. Ao ser questionado quanto ao passado do grafite em Florianópolis, ele relata que ao longo do tempo de certa forma a própria mídia, publicidade, propaganda favoreceram na questão das pessoas assimilarem que o grafite é uma arte. 

"Hoje a linguagem grafite está inserida nas roupas, na capa de um caderno, nas propagandas e até mesmo na novela! É uma arte muito dinâmica que se comunica com as pessoas e o transeunte urbano. Em Floripa isso aconteceu de uma forma muito mais acelerada, a cidade tem poucos artistas e todos sabem a importância do diálogo e da postura a ser tomada quando há algum questionamento sobre "o que você esta fazendo ?". Mas o grande fator que contribuiu para que o graffiti fosse tratado como arte e desmarginalizado foi a presença nas mídias, ali ele ficou caracterizado na mente da sociedade como uma arte que veio para "superar" a pichação." declara João.


Crédito: ArtesUrbanas.com
João tem trabalhos em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Chile, Peru, Paraguai, dentre outros lugares. "Geralmente viajo para participar de algum encontro de grafite, onde reúnem centenas de artistas de diferentes culturas para pintar um grande muro, eventos de grande porte. Também costumo viajar para conhecer outra cultura, outra língua, diferentes pessoas e percepções. Viver momentos únicos que me inspirem", discorre.


João: Acredito que seja o refinamento que gosto de trabalhar nas letras, formas,texturas, riqueza de detalhes do estilo que venho desenvolvendo. 


Artes Urbanas: Muitos veem no grafite uma contravenção da lei. Você já teve problemas com a polícia?

João: Sim, quando estava pintando sem autorização em bens públicos e privados. Mesmo realizando um trabalho de arte, sem permissão não teve conversa. Fui encaminhado à delegacia, onde geralmente assinamos um termo circunstanciado por tal atitude, tendo que comparecer em juízo e posteriormente pagar cesta básica ou serviço comunitário. Hoje em dia, não diria que é perigoso grafitar em Florianópolis, mas sujeito a ser encaminhado a delegacia sem dúvidas. 


Crédito: ArtesUrbanas.com
Artes Urbanas: O grafite evoluiu não apenas nos traços e técnicas, como também na aceitação. Como você vê o grafite daqui 10 anos?

João: Cada vez mais presente nas ruas, muita gente nova começando.  Está cada vez mais fácil ter acesso à informação. Hoje em dia você compra os materiais específicos e se quiser faz oficinas para aprender. Com a evolução da comunicação, principalmente da internet, é possível entrar em contato com artistas, galerias,  clientes e admiradores do mundo inteiro. Na questão comercial do grafite tratado como decoração, creio que a procura também será maior e em diferentes vertentes, design, decoração e criações em geral. É o movimento de arte contemporânea que mais cresce no mundo.


Artes Urbanas: Você tem uma empresa que de certa forma é voltada para o grafite. Mas é possível viver apenas da arte hoje?

Crédito: ArtesUrbanas.com
João: Sim é possível, apesar de ser muito difícil. Primeiro o artista tem que ser altamente capacitado, deve haver muita determinação e um forte leque de contatos que possam vir a ser clientes. Vivemos em um país de terceiro mundo, onde a valorização da arte em geral não é das melhores. Eu sou artista mas não vivo de grafite, trato como um hobby, uma diversão, porém vivo em função da arte e uso dela quando surge algum trabalho. Em contra partida, minha renda real vem da distribuição nacional de uma marca Australiana de tintas spray, a IRONLAK.

Artes Urbanas: E quanto você gasta, em média por mês, para fazer seus trabalhos como hobby?

João: O grande diferencial é que tenho fácil acesso ao material, já que eu mesmo realizo a importação. Isso é o fator que faz com que eu grafite muito, pois consigo comprar o spray com um valor muito mais barato que no mercado convencional. Acredito, que em média invisto mil reais.

Artes Urbanas: O que diferencia o seu trabalho dos demais?

Os trabalhos do artista nem sempre agradam, segundo ele, nunca teve que refazer uma obra, mas o dono de um muro não gostou e simplesmente apagou o desenho, " ele nunca mais quis um grafite" revela João, que ainda nos diz qual de suas obras mais lhe marcou "Uma das peças que mais gosto é essa aqui, composição das cores, nesse (foto abaixo) eu fiz um personagem, coisa que não tenho o hábito de fazer. Gostei desse sentimento de superação e do impacto."

Crédito: Arquivo João Vejam
Artes Urbanas: Você pratica o free style, como é essa modalidade de grafite? E quais são as outras?

João: Sim, é uma criação sem nada pré-determinado, sem esboço. Apenas começo a fazer e vai fluindo naturalmente, criando na hora.  Há vários termos na linguagem do grafite. Quando feito com permissão, chamamos de produção ou painel. Já o sem autorização, de forma ilegal, é denominado de Bomb. Essa atitude (do bomb), é na maioria das vezes o throw-up, que em uma tradução livre para o português, significa vômito. Tratam-se de letras simples, sem muito cuidado estético, com poucas cores e pintadas rapidamente, por isso o apelido. O 3D, como o nome já diz, são as letras que remetem ao estilo gráfico computadorizado, tridimensional e com vários planos. O Wild style (letras estilizadas) são palavras trançadas e enroladas uma nas outras. 

Para João, o cenário e a evolução da atividade em Florianópolis está em plena ascensão. Porém, poucos criam artes de alta qualidade e estilos únicos. "Graças a essa originalidade, somos reconhecidos mundialmente. No universo do grafite este é um fator que determina o trabalho ser bom ou ruim. Você consegue identificar um artista apenas por seus traços".

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2 comentários:

  1. Muito bom um cidadão que é um empresário e faz grafite,isso mostra a diversidade de muitos jovens que são comprometidos com o seu trabalho mas usa o seu tempo livre pra fazer algo de bom invés de ir usa drogas,roubar etc...

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