segunda-feira, 10 de junho de 2013

Grafite: "Se você acreditar com todas as suas células, você o torna real"

Crédito: ArtesUrbanas.com
Rodrigo Rizo, teve suas primeiras experiências há 12 anos, mas se considera grafiteiro há 7. A inspiração para suas obras de arte é buscada na vivência do dia a dia, nas pessoas que conhece, nas situações cotidianas." Minha inspiração vem da política, da cultura popular, os clichês, a publicidade e os conceitos já estabelecidos. Uso isso para fazer novas perguntas à velhas respostas" comenta. 
  
Artes Urbanas: Como foi o seu primeiro contato com essa arte? 

Rizo: Através da herança da skate art e da pichação, com as quais eu tinha contato. Sempre andei muito na rua, meu núcleo de amizades foi de pessoas que ocupavam a cidade, o grafite veio a partir dai.

O artista, vê arte urbana como toda forma de expressão que não se restringe a um espaço, é onde o suporte faz parte da obra. Mas nem sempre o grafite foi bem quisto na cidade. 

Artes Urbanas: Há 10 anos o grafite era visto como 'marginalização' em Florianópolis. Como foi essa transição de cultura e de pensamento da sociedade? 

Rizo: Foi bem difícil, era tudo muito limitador e excludente. Mas nenhuma mudança acontece sem esforço e persistência. Essa mudança não veio por uma luta exclusiva dos artistas de Floripa. É um momento vivido no mundo todo. A sociedade passou a compreender a real importância cultural, política e social do Grafite, quando viram nele uma voz que fala sem censura. Amanhecia e lá estava algo novo no trajeto fazendo você pensar. Ficou impossível ignorar e excluir, embora muitos ainda insistam. Hoje somos relativamente valorizados, pois somos parte da vida urbana e as pessoas apreciam isso.

A arte do Rizo, e seus camaleões, está em todos os pontos da cidade, apesar de comercializar seus trabalhos por outros meios, ele pinta algumas telas, mas não tem isso como foco profissional.  

Crédito: Arquivo Rizo
"As pessoas querem transportar o que elas veem na rua para dentro de suas casas, para chamar de seu. Elas querem o grafite na parede interna da residência. E é isso que eu faço. Sei que o mercado da arte é bem competitivo, e estou ligado a ele de certa forma. Existem excelentes artistas e bons espaços, comercializando essas obras. O principal problema que eu vejo, é que o consumidor ainda não compreendeu que investir em arte é um bom negócio. Mas isso são questões culturais mais profundas." declara Rizo.

Com a valorização da atividade, surgiu também o interesse por aprender sobre e como produzir os traços. Por isso, Rizo criou um curso para os interessados, que normalmente ocorre na Cor Galeria. Ele comenta que a procura é boa, e que a maioria das pessoas se aproximam por curiosidade ou para explorar outra técnica de pintura, poucos tornam-se grafiteiros de fato. Na sua visão, daqui há 10 anos existirão novos estilos, espaços e propostas. "O grafite é infinito.", relata. 


Crédito: ArtesUrbanas.com
Viver financeiramente desta arte é possível, mas extremamente difícil. "É como um sonho. Se você acreditar com todas as suas células, você o torna real.", define.

Rizo, já viajou para apresentar seus trabalhos e buscar um intercâmbio cultural, fator importante para evolução do artista. "Já fui a São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Chile e Peru. Sempre para exposições ou encontros internacionais." .


Arte Urbanas: O que diferencia o seu trabalho dos demais?

Rizo: Tenho uma identidade visual, que é o Camaleão. Uma figura que espalho por onde vou. Fora isso, acho que as mensagens que tento transmitir.

Artes Urbanas: Qual o simbolismo do camaleão?

Rizo: Representa a adaptação, é quase uma metáfora visual do que o grafite significa para mim. Pois ocupa os espaços que não foram previstos para abrigar uma arte, e precisa ajustar-se. Seja nas formas,  cores, luzes ou sombras, eu coloco isso no meu estilo e nas situações em que o camaleão aparece. 

Ele nunca parou para contar quanto gasta em média por mês para fazer seus trabalhos não pagos, mas relata que já teve problemas com a polícia no passado. "Diversas vezes somos levados até a delegacia, explicamos o que ocorreu e acaba ficando por isso, pois os delegados muitas vezes são mais preparados culturalmente para entender que não estamos depredando o patrimônio de ninguém e sim fazendo arte, com a intenção de renovar e melhorar o ambiente urbano.", conta Rodrigo.

Crédito: Arquivo Rizo
Artes Urbanas: Atualmente, ainda é perigoso grafitar em Florianópolis? Quais riscos você corre?

Rizo: Não sei se a palavra é perigo, mas sim, requer coragem. Os riscos são os mais diversos, os mesmos que qualquer cidadão corre. Ser atropelado, ser assaltado, ser confundido, ser preso... enfim. 

Artes Urbanas: Qual grafite que você já fez tem mais significado, ou você mais gosta?

Rizo: Normalmente é o último que fiz.  É um tipo de paixão, que permanece até que eu faça o próximo.

Artes Urbanas: Por fim, para você o que é grafite?

Rizo: Minha vida, meu amor, minha personalidade, identidade, visão, atitude, eterna busca e paz.

Um comentário:

  1. Ótimo texto esse cara é um herói, enfrenta condições adversas pra mostrar a sua arte, ele merece o respeito da sociedade como qualquer outro trabalhador.

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